Plano de Aula
O homem que brincava de fazer arte
Pablo Picasso criou o cubismo. Foi barroco, expressionista e surrealista. Rompeu com a estética de sua época para "desenhar como criança". Traga para a sala os traços e as cores que marcaram as artes plásticas do século XX.
Objetivos
Observar as influências entre as diversas
correntes artísticas ao longo do tempo e perceber a contribuição de Pablo
Picasso nas artes plásticas
Introdução
"Quando
criança, eu desenhava como Rafael. À medida que fiquei mais velho, passei a
desenhar como criança".
As palavras do pintor espanhol Pablo Picasso
sintetizam sua trajetória artística. Ao longo de sete décadas, ele criou
pinturas, colagens, esculturas, gravuras, cerâmicas, cenários para balés, uma
produção "caudalosa", resume a reportagem de VEJA. Durante esse tempo, aprendeu
a brincar com imagens, a apresentá-las livremente, com frescor e espontaneidade.
Também aprendeu a olhar o mundo com olhos de criança, como quem o vê pela
primeira vez, e transmitiu esses ensinamentos a gerações de artistas plásticos.
Foi esse o maior legado de Picasso. Hoje, quando a liberdade e a subjetividade
se manifestam na arte, é difícil imaginar que, antes dele, não era assim.
Naturalmente, não desenhar "como Rafael" não significa esquecer as
lições do mestre renascentista e de outros mestres. Ao contrário, a criatividade
de Pablo Picasso recebeu as influências de todos os séculos e de todas as
latitudes da expressão artística. O plano de aula vai ajudá-lo a mostrar a seus
alunos a rede de vasos comunicantes das artes plásticas, tecida ao longo dos
séculos.
A realidade da arte
O desenho de uma árvore é uma representação do
real, mas também faz parte da realidade. Especialmente aos olhos de um artista:
para ele, a pintura é tão real quanto a árvore. Muito de seu trabalho é
alimentado pela própria arte, ao revisitar temas e tradições. Não se trata de
uma cópia: ele experimenta, explora, incorpora e afinal "desaprende", como
Picasso "desaprendeu" Rafael.
Essas influências e incorporações se
manifestaram em momentos decisivos da obra de Picasso. Em 1907, ele transformou
a maneira de apresentar a figura feminina com a tela Les Demoiselles d'Avignon,
inspirada nas máscaras tradicionais africanas. Seguiu-se a revolução do cubismo
(1909-1912), que nega a perspectiva criada no Renascimento e apresenta as massas
de um objeto sob diferentes focos de luz. A influência maior foi exercida pelo
pós-impressionista francês Paul Cézanne (1839-1906), que enfatizou a massa e a
estrutura subjacente do objeto e não a visão apresentada pela luz que dele
irradia. O resultado, no caso do cubismo, foram as visões múltiplas do objeto e
a fratura do espaço, do jogo de luzes e sombras e da cor, que até hoje marcam as
artes plásticas.
Nas décadas seguintes, Picasso manteve diálogo com
outros movimentos artísticos e culturais, como o surrealismo e o expressionismo.
O contato com o surrealismo ajudou-o a explorar o tema da sexualidade em imagens
como as da série do Minotauro, símbolo do humano e do animal em cada um de nós.
As deformações do expressionismo, por sua vez, integraram-se ao cubismo a ponto
de se tornarem características da arte de Picasso. Como observa a reportagem de
VEJA, esse é o estilo predominante em muitas obras da mostra Picasso Anos de
Guerra 1937-1945. Entre essas obras estão as gravuras dedicadas a Dora Maar.
Nelas, ignorando convenções do "belo", Picasso mostra como percebia a namorada.
Apesar das "monstruosidades" expressionistas, lembram as fotografias de Dora
Maar (veja a reportagem e o site www.whom.co.uk/dora/doramaar.htm).
Cubismo, expressionismo e o barroco do flamengo Rubens (1577-1640)
somam-se na grande ausência da mostra: o mural Guernica, criado em 1937, depois
que a aviação nazista massacrou a aldeia basca de Guernica, durante a Guerra
Civil Espanhola. Entre as imagens está a de uma mulher de braços erguidos, que
parece transplantada da tela Horror da Guerra, de Rubens.
"Frágil, o
mural não deixa mais a Espanha", informa a reportagem. Mas sua força enquanto
denúncia dos horrores da guerra permanece total. Conta-se que na França, durante
a Segunda Guerra Mundial, um nazista perguntou a Picasso se ele é quem havia
feito o mural. O pintor respondeu, numa referência à violência alemã contra as
pessoas e animais da aldeia: "Não. Foram vocês."
Atividades
1. Encarregue os alunos de rastrear as principais influências na
arte de Picasso. Algumas pistas: a arte francesa do século XIX; a arte espanhola
(Velázquez, El Greco, Goya; a arte grega, especialmente na cerâmica).
2.
Encomende pesquisas em livros e na internet sobre fotos de Dora Maar e as
gravuras de Picasso que a representam. A partir desse material, mostre à classe
como o universo criado pelo pintor tem raízes na realidade.
3. Encomende
pesquisas sobre a obra de Cândido Portinari, especialmente a dramática série dos
Retirantes. Mostre aos alunos como algumas soluções do pintor brasileiro foram
influenciadas por Picasso.
1905:
Museu de Arte Moderna de Nova York
Pintado em Paris, o óleo sobre tela Família de Saltimbancos demonstra
simpatia e solidariedade em relação aos modelos, pessoas independentes e livres.
Pertence à chamada "fase rosa" de Picasso
1907:
Museu de Arte Moderna de Nova York
Influenciado pela arte africana e pela expressão de massas na obra de
Cézanne, Les Demoiselles d'Avignon é uma obra revolucionária, que rompe com a
perspectiva linear tradicional e com o modo de representar a figura feminina na
pintura clássica
1909:
Museu Ermitage de São Petersburgo
O Reservatório em Horta de Ebro (óleo sobre tela) apresenta a estrutura
geométrica de um cristal. Mostra influências de Cézanne e das paisagens pintadas
por Georges Braque (1882-1963). Entre 1909 e 1912, Picasso e Braque trabalharam
em conjunto, lançando o movimento conhecido como cubismo
1934:
Alipio Silva Jr.
Minotauro Cego Guiado por uma Menina. Influenciado pelo surrealismo, Picasso
explora a noção de metamorfose em suas obras. O tema do Minotauro, desse
período, é muitas vezes uma auto-imagem, associada à luta entre o humano e o
bestial em cada pessoa
1937:
As imagens fragmentadas de Guernica denunciam o massacre de uma aldeia pela aviação alemã a serviço do franquismo durante a Guerra Civil na Espanha. O mural, encomendado pelo governo republicano, está hoje no Museu do Prado. Acima, um estudo do pintor para Guernica
FONTE:http://antigo.revistaescola.abril.com.br/online/planosdeaula/ensino-medio/PlanoAula_294701.shtml
Acessado em: 12 de Março de 2010/ Sexta-feira.